sábado, 26 de julho de 2008

Estômago

Apesar do cenário carcerário e de uma cozinha imunda, o filme Estômago do diretor curitibano Marcos Jorge não dá embrulho no estômago. O filme é um grande achado do cinema brasileiro. O longa-metragem conta a história de Raimundo Nonato (João Miguel), um rapaz humilde que chega à cidade grande na esperança de encontrar uma vida melhor. Na narrativa o destino sorri e depois vira-lhe a cara.

Nonato chegou de madrugada às paisagens curitibanas, faminto. Entrou em um boteco sujo e mal encarado no centro da cidade e pediu duas coxinhas engorduradas. Comeu e dormiu no balcão. Até que o seu Zulmiro (Zeca Cenovicz), dono do bar, acordou-o e pediu para que ele pagasse a conta. Raimundo Nonato recusou, pois não tinha um tostão. Lavou pratos a noite inteira, e na manhã seguinte foi contratado como cozinheiro.

Logo nas primeiras receitas que prepara, o rapaz descobre que tem dom para a cozinha. Com suas coxinhas, Nonato atrai muitos clientes para o bar e se torna conhecido na região. Ao perceber o talento nato de Raimundo, seu Giovanni (Carlo Briani), dono de um restaurante italiano o contrata como assistente. A nova vida trouxe à ele o amor quase doentio pela prostituta Iria (Fabiula Nascimento).

O filme tem uma estrutura não linear que apresenta duas ações que se passam ao mesmo tempo. Uma é a de Nonato iniciando seu trabalho no boteco e outra dele chegando em uma prisão. A curiosidade para saber porque o destino virou a cara para ele é um dos grandes segredos do filme, só revelado no final.

Os atores que participaram da produção são muito experientes e foram escolhidos a dedo. João Miguel, o protagonista, é um personagem cativante que apresenta uma linha tênue entre ingenuidade e esperteza. Não é a toa que ele ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Punta del Este.

Alessandro Yamada, assistente de arte do filme afirma que a escolha dos atores não foi nada fácil. Muitos testes foram feitos até chegar à composição do elenco. “A Fabiula Nascimento se esforçou muito para conseguir o papel”, diz. Marcos Jorge estava em dúvida entre ela e a Guta Stresser. Na escolha, a gordinha foi contemplada, pois ela dava conta do recado.

O filme foi feito com muito cuidado, cada detalhe foi estudado previamente. A produção dá uma esperança aos curitibanos que o cinema da terrinha pode crescer e se tornar tão bom quanto os do eixo Rio-São Paulo. Digo aliviada que da boca ao ânus, Estômago faz um espetacular caminho digestivo.

Coletiva com Alessandro Yamada

A turma do 6º período de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) convidou o assistente de arte do filme Estômago, Alessandro Yamada, para uma coletiva. O profissional apresentou os pontos-chave do processo produtivo do filme e ficou à disposição dos alunos para responder às possíveis dúvidas que surgissem no decorrer do bate-papo.

Alessandro iniciou a coletiva contando como foi parar no filme. Arquiteto de formação e cinéfilo por amor. Por ironia do destino foi através da arquitetura que Alessandro foi convidado a participar da produção do filme. Marcos Jorge sentiu falta de um arquiteto para a cenografia e pediu para que ele desse uma assistência. Alessandro conta que a cela foi construída para o filme. A missão de quem faz a direção de arte é trazer para os lugares a sensação de ocupação humana. “Nós construímos a cela e depois tivemos que sujar, quebrar as paredes, rabiscar e tentar fazer com que ficasse com cara de usada”, disse.

“Estômago aborda a baixa gastronomia e faz coisas feias parecerem belas” afirmou o assistente deixando clara a sua admiração pelo filme. De acordo com ele o trabalho foi árduo. Yamada lembrou que as cenas mais difíceis foram a do Mercado Municipal e a do banquete que Nonato prepara na prisão. Aquela, pela quantidade de figurantes envolvidos e os horários disponíveis para filmagens, e esta pelo fato de que era necessário montar um leitão destroçado e outro inteiro. “Nós compramos um leitão cru e pintamos com verniz para que ele parecesse douradinho”, diz. A turma ficou impressionada ao saber do truque, pois na telinha parecia delicioso.

Outra cena que Alessandro considerou complicada foi a da formiga entrando no nariz de Nonato. A equipe tentou de tudo para a formiga entrar no nariz do João (Miguel), mas nada dava certo. Até que eles tiveram a idéia genial de fazer um molde de resina do rosto de Nonato e colocar um ovo de formiga dentro do nariz do molde. “Assim, instintivamente a formiga foi atrás do ovo e conseguimos fazer a cena”, afirmou.

Além de dar informações sobre o processo produtivo de Estômago, Alessandro falou sobre as dificuldades de produzir um longa paranaense. De acordo com ele o estado está fora do eixo devido ao seu conservadorismo. Alessandro acredita que fazer cinema é contestar e isto é muito difícil em um local em que as pessoas tem uma cabeça fechada e poucas escolas de cinema que formem verdadeiros diretores. “Tecnicamente, Curitiba não deixa a desejar para as outras capitais, porém o problema está no campo das idéias”, disse.

Alessandro alerta os futuros cineastas da turma que fazer um filme não é uma atividade viável economicamente e ainda é algo que, se bem feito, demora muito tempo para ficar pronto. De acordo com ele, um filme bom demora em média quatro anos para ficar pronto entre planejamento, produção e exibição. “É um trabalho que exige paciência e muita força de vontade”, afirma.

Mais informações

Alessandro Yamada
alessandro@zencrane.com


* Texto de autoria de Juju Fontoura entregue à disciplina de Cinema em 20/05/2008 no blog http://ultimascoisas.blogspot.com

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Núcleo de Intercâmbio PUCPR



Entrar em contato com outras culturas, trocar experiências e mudar a forma de enxergar o mundo são algumas das vantagens de participar do programa Intercâmbio Universitário da PUCPR.

Para os alunos de graduação, são oferecidas duas formas de participação. Uma delas é o Intercâmbio Cultural, em parceria com a Universidade de Ciências de Okayama, no Japão. Neste programa, o estudante tem a possibilidade de conhecer o dia-a-dia dos japoneses e a cultura oriental. A viagem é realizada todos os anos, sempre no mês de julho, com duração de três ou quatro semanas para universitários de qualquer curso a partir do 2º período.

O outro programa é o de Aproveitamento de Créditos, no qual o acadêmico pode cursar disciplinas em instituições estrangeiras. A PUCPR tem convênio com 60 universidades distribuídas em 17 países. A permanência do estudante é de seis meses ou um ano.

De acordo com o Diretor de Relações Externas da PUCPR, Álvaro Amarante, o intercâmbio é uma atividade com fins acadêmicos e culturais que traz muitos benefícios para o estudante. Segundo ele, é um diferencial curricular; faz com que o aluno adquira fluência no idioma do país de destino; e é uma oportunidade que o estudante tem de ganhar autonomia e administrar a própria vida. Amarante salienta que o principal objetivo do intercâmbio é fazer com que o aluno aprenda a lidar com outras culturas, facilitando, assim, sua inserção no mercado de trabalho. “Nós trabalhamos para internacionalizar os cursos da PUCPR, buscando novas parcerias”, afirma.

A estudante de jornalismo da PUCPR Fernanda Lima estudou seis meses na Universidad Marista, no México, em 2007. Para ela, o principal benefício de viajar é estar em contato com maneiras de pensar, agir e resolver os problemas, diferentes do que está habituada. Além disso, ela pôde aprimorar o espanhol. “Com o intercâmbio, tive a oportunidade de escrever e dar fluência ao idioma”, diz.

Para participar do programa, o aluno deve estar regularmente matriculado em qualquer curso da Instituição, tendo cursado 50% da graduação; precisa obter média mínima de 6,5 na avaliação do histórico escolar da graduação; não ter dependências trancadas; ter nível intermediário da língua do país de destino; e ter condições financeiras para participar do programa (600 euros ou dólares mensais na Europa e nos EUA, respectivamente). Os custos de hospedagem, alimentação, seguro-saúde, passagem aérea, despesas com visto e gastos pessoais são de responsabilidade do aluno.

A PUCPR também oferece aos alunos de universidades estrangeiras em todo o mundo a oportunidade de cursar disciplinas na Instituição. O estudante francês, Elvis Deljkovic, cursou disciplinas de Engenharia de Produção no primeiro semestre deste ano. De acordo com ele, todos os estudantes deveriam fazer intercâmbio, pois conhecer outro país e uma nova cultura é muito importante para ter uma formação completa.

As inscrições para participar do Programa de Intercâmbio de Graduação para Aproveitamento de Créditos com início em fevereiro de 2009 podem ser feitas de 28 de julho a 22 de agosto pessoalmente no Núcleo de Intercâmbio situado no 6º andar do Prédio Administrativo ou preenchendo a ficha de inscrição disponível no site (www.pucpr.br/intercambio) e enviando-a para o e-mail intercambio@pucpr.br.

Novidades

Em breve, outras duas modalidades de intercâmbio estarão disponíveis: a viagem de estudos acadêmicos para realização de atividades de pesquisa ou extensão na instituição estrangeira durante o período de férias e a dupla-diplomação, em que o aluno poderá realizar parte da graduação no exterior, obtendo diploma tanto da PUCPR quanto da instituição estrangeira.

Serviço

Núcleo de Intercâmbio e Cooperação Internacional
Local: Prédio Administrativo - 6º andar
Horário: das 8h30 às 11h30 e das 14h às 17h30
Telefone: (41) 3271-1411 ou 3271-1697
www.pucpr.br/intercambio intercambio@pucpr.br

* Matéria de autoria de Juju Fontoura publicada em 25/07/2008 no site da PUCPR.

domingo, 20 de julho de 2008

O processo criativo de Leminski




Embora simples na linguagem, as idéias incrustadas nas poesias de Paulo Leminski têm um quê de rebuscamento e sofisticação. A autêntica criatividade ao expressar-se o tornou um dos mais célebres poetas brasileiros.

Curitiba, a cidade conservadora e de tradições recatadas, foi o berço descabido do poeta. Durante toda a sua existência na cidade provinciana, havia quem jurasse que Leminski caiu em solo extraterreno, mas criou raízes.

Incompreendido, ele tentava compreender e alterar o espaço urbano, rompendo qualquer tipo de regra que lhe fosse imposta. De acordo com a viúva Alice Ruiz, Paulo viveu como um exilado. Nada que não contivesse idéias e poesia o cativava.

O sentimento de não pertencimento de Paulo Leminski fez com que ele procurasse caminhos para se desvencilhar do fardo. Ele procurou se envolver não só com literatura em prosa e poesia, mas também com fotografia e música. As artes em todas as suas manifestações eram, para ele, subterfúgios para escapar da incompreensão.



De acordo com a psicóloga Neuzi Barbarini não é preciso um momento solene, excepcional, para fazer brotar a inspiração artística. Esta surge quando alguns conteúdos internos fazem sentido e tomam forma.

Segundo ela, o processo criativo intrigava o próprio Freud, que no seu texto “Escritores criativos e devaneio” se mostrou impressionado pela pouca ou nenhuma distância existente entre o artista e o homem comum, a não ser uma tendência do primeiro em, como as crianças, “brincar” com seu objeto de criação, que são as palavras, conseguindo com isso criar imagens impressionantes que, escritas sem arte, poderiam nos chocar ou causar repulsa.



Neuzi considera Leminski um brincante. Para ela o haicai (forma muito comum no trabalho do artista) era malabarismo com palavras, que se equilibravam precariamente formando sentidos tão inusitados quanto os das bolas que voam no ar parecendo um círculo sem sê-lo.

Se referindo à arte de Leminski e resgatando Freud, Neuzi coloca ainda que a arte é inútil, pois só na inutilidade ela pode cumprir sua função transgressora, transformadora e “libertadora de tensões”. Segundo ela o útil não é arte, é mercadoria que se consome até fartar, já a arte sempre reserva uma emoção nova quando tudo parece já conhecido.

A estudiosa portuguesa Judite Cruz (1999), afirma que em termos psicológicos todo processo artístico parte de um relativo caos. Para ela são as metáforas, analogias, imagens, narrativas e exemplos físicos que ajudam a criar ordem no pensamento. Leminski sempre partiu do caos para mais tarde sentir ser-no-mundo.


Afonso Lisboa da Foncesa, em seus estudos da psicologia, diz que a existência afirmativa da arte é assumida como afetividade do vivido. Ou seja, o processo artístico, em toda a sua plenitude, é inerente ao processo e incerteza próprios do ser humano.

Sendo assim, Paulo talvez tivesse considerado a existência da arte como criação e produção de vida, de força de vida, e do mundo. O processo criativo para ele parece ter sido uma vivência organísmica.

Ainda lembro...

"Paulo Leminski a quem não interessava nada que não contivesse idéias e poesia, viveu nessa vida como um exilado."

Alice Ruiz, esposa.

"Como pai o Paulo não era nada tradicional. Ele preferia me levar passear nos campos do intelecto e da história. Por exemplo, quando lhe perguntei o que era a revolução russa e ele parou tudo que estava fazendo para me explicar, dar uma aula detalhada, com paixão e precisão. Não satisfeito, escreveu um livro, a biografia de Trotsky e, generosamente, dedicou a mim. A partir deste momento eu soube qual era o caminho para o seu coração: o mundo das idéias, do pensamento, da criação, da palavra."

Aurea Leminski, filha.

"Ele me fascinou e fascinaria em qualquer época pois era uma pessoa fora do comum, extrovertido, sempre alegre."

Neiva Maria de Souza, desenhista e ex-mulher.

"Em 1983, eu fiz uma exposição na sala da Funarte, em Curitiba, chamada Nuvimento. Como eram trabalhos centrados na figura da mulher eu pedi a Alice que fizesse um poema para apresentar a mostra. Quando soube, o Paulo veio conversar comigo e pedir satisfações. Queria saber por que eu não tinha pedido um texto para ele. Estava com ciúmes."

Nego Miranda, fotógrafo.

"Convivemos muito. Ele era uma pessoa generosa. Uma das lembranças mais fortes que guardo dele é de quando o Nhô Belarmino (o músico e cantor sertanejo Salvador Graciano), de quem o paulo gostava muito, morreu. Ele me procurou e perguntou se eu queria compor com ele uma canção em homenagem. Eu disse que sim e ele já mostrou o texto,lindíssimo, pronto. O Paulo não era de endeusar ninguém, muito pelo contrário, mas, por outro lado, gostava das coisas simples, e quando o Belarmino morreu ele ficou visivelmente emocionado, tocado mesmo."

Marinho Galera, músico e parceiro.

"O Leminski por trás de toda a fleuma de intelectual polêmico, era um sujeito dócil e muito engraçado."

Jaime Lechinski, jornalista.

Fonte: http://www.leminski.curitiba.pr.gov.br/

*Texto de autoria de Juju Fontoura publicado na primeira edição da revista autoral "Releitura" produzida em junho, como prática pedagógica do programa de aprendizagem Produção Editorial em Revista do curso de Comunicação Social - Jornalismo da PUCPR.

Orientação: Prof.ªMaria Teresa Freire.

sábado, 19 de julho de 2008

Panorama Interdisciplinar do Direito da Criança e do Adolescente




O Estatuto da Criança e do Adolescente acaba de completar 18 anos de existência. Ao longo desse período, profissionais de diversas áreas somam esforços para compreender e implementar a essência da lei diante de uma realidade tão adversa e desigual imposta pela sociedade brasileira às crianças e aos adolescentes.

Para complementar a formação de profissionais que se interessam pelo tema, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) oferece o curso de Pós-Graduação Panorama Interdisciplinar do Direito da Criança e do Adolescente.

Ana Christina Brito Lopes, uma das coordenadoras do curso, reconhece a necessidade de ter uma quantidade maior de profissionais de áreas diversas envolvidos com a política de atendimento inscrita no Estatuto e atuando na defesa e garantia dos direitos de que são titulares crianças e adolescentes. De acordo com a professora, a inspiração para propor o curso veio da história de Marcelino Champagnat. “Ele foi fundador da Congregação dos Maristas que, até hoje, tem um compromisso com a promoção de cidadania infanto-juvenil”, diz.

Para Paulo Henrique Laporte, diretor de Educação Continuada da PUCPR, este curso carrega a essência da instituição, pois têm como objetivo prezar pela sintonia social e bem-estar dos cidadãos. Segundo o professor, a universidade faz questão de incentivar cursos voltados para a causa da criança e do adolescente. “Nós estamos cuidando para que cursos como este sempre estejam presentes na instituição”, afirma.

O Curso pretende colaborar para que os profissionais estejam capacitados e comprometidos com esta causa contribuindo para a reflexão e promoção do debate sobre o tema, com o intuito de encontrar formas positivas para construir uma nova visão sobre o ECA.

A professora Maria Izabel Pires, diretora do curso de Serviço Social, afirma que proteger as crianças e os adolescentes é prioridade absoluta. “Nós estamos trabalhando para tirar do papel a doutrina da proteção integral”, diz. Segundo ela, o mais importante no curso é que profissionais das mais diversas áreas (direito, pedagogia, comunicação, medicina) se tornem cabeças pensantes para resolver, principalmente, o problema das crianças em situação de rua.

Estruturada de forma interdisciplinar, a especialização destaca-se não só por apresentar a proteção integral a partir de uma abordagem ampla, mas também reúne profissionais experientes e renomados na área da criança e do adolescente no cenário local, nacional e internacional.

As inscrições para o curso podem ser feitas pelo site até o dia 20 de agosto. Ex-alunos da PUCPR e grupos de uma mesma instituição (a partir de três alunos) têm desconto.

Mais informações

(41) 3271-1520 (Ivanil)

* Texto de autoria de Juju Fontoura publicado originalmente em 18/07/2008 no site da PUCPR.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O pequeno mundo de Rita

Desde 1989, Rita de Cássia Baduy Pires vê o mundo em miniatura como o Pequeno Polegar, clássico personagem de conto de fadas. A artista começou o trabalho de forma intuitiva, com bordados emoldurados, nos quais agregava elementos plásticos, como a porcelana. Tudo era feito de forma rústica, sem preocupação técnica.

Rita na Feira CraftDesign - Março 2008

Com o tempo, houve a necessidade de aperfeiçoamento na área, e Rita decidiu estudar Artes Plásticas na Faculdade de Artes do Paraná. Isso proporcionou a criação de um estilo próprio e garantiu a ela a aplicação de conhecimentos práticos e teóricos.

Mas Rita não é adepta a regras. Se fosse seguir os padrões artísticos da miniatura, utilizaria a escala internacional 1/12. Para garantir que ela veja o mundo como o Pequeno Polegar, preferiu utilizar uma escala 1/20, visivelmente menor.

Cadeiras de vários modelos compõem o ateliê de Rita

Outro indício de que ela quer se diferenciar é o fato de não ter optado por linhas tradicionais, como a de casas de boneca, estilo que surgiu no século XVI com o intuito de representar as dependências do lar e ensinar as meninas a como organizar e dirigir a vida doméstica.

Utilizando materiais como argila, madeira e papel, Rita produz miniaturas denominadas box form que representam ambientes da casa, artes plásticas, profissões, estabelecimentos, instrumentos musicais, e homenagem a artistas e poetas. Tudo desenvolvido de forma personalizada e única, conforme o pedido do cliente.

Boxform temático - cinema

Mas isso não significa que ela não siga um padrão, um conceito. Embora cada peça tenha um toque pessoal, existem modelos para confecções em maior número, o que torna seu trabalho controverso: afinal, o trabalho de Rita é arte ou artesanato?

Na verdade, nem ela sabe responder. De acordo com estudiosos como Read (1972: 19), o conceito de arte é intimamente ligado a definição de belo. O artista, portanto, seria um indivíduo com a intenção exclusiva de agradar, de despertar nos seres humanos o sentimento de beleza.

Uma caixa de pasta de dente é matéria-prima para a construção de uma cadeira

Segundo Martins (1977: 14), a arte se relaciona não com a beleza, mas sim com as emoções. Para ele, arte é todo trabalho que consegue transmitir emoção, independente do material e processo utilizados. O objeto de arte é uma emoção humana cristalizada. Embora silencioso, comunica por si mesmo, transmite a idéia de seu criador à pessoa que o contempla. Não importa a língua falada pelo autor, a região em que foi criada, a escola que o representa, a época em que surgiu.

Composição com cadeiras

Como definir então as miniaturas de Rita se os conceitos são tão variados? A concepção de arte e artesanato é intrínseca ao repertório do ser humano. Depende do ponto vista. O que para um indivíduo é artesanato, para outro pode ser arte, e para um terceiro pode não representar nada.

A artista plástica e professora da UFPR, Marília Diaz, afirma que Rita é uma artista da delicadeza e procura o silêncio dos olhos que navegam pelas box form, como que a buscar os sedimentos do seu lugar, a humanização dos espaços em tempos de não-lugares. “Rita captura, encapsula atmosferas, modos de ver e entender o comércio e a própria vida.”, diz. Marília considera o trabalho de Rita uma interpretação de cenas que insistem, persistem em se manter inalteráveis.


Casa da Azeitona


Para Rita, seu trabalho não chega a ser considerado arte. Sem graça e com o sorriso no canto da boca ela rejeita a discussão polêmica. Só admite que o trabalho de um artista e de um artesão caminham juntos. De acordo com Mário de Andrade, o bom artista deve ser, acima de tudo, um bom artesão.

Espaços Curitibanos

Uma novidade do Ateliê Ana Beatriz Miniaturas - nome escolhido em homenagem às filhas - são os projetos especiais, como o “Espaços Curitibanos”. O trabalho, subsidiado pela Fundação Cultural de Curitiba, através do auxílio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, tem como objetivo homenagear antigos comércios de Curitiba. O trabalho é um resgate da história paranaense. As doze miniaturas re-visitam o espaço urbano e representam os mais singelos locais que, em breve, poderão ser perdidos com a modernização da cidade.


Casa Shier

Ao andar pelas ruas de Curitiba à procura de espaços que pudessem transportar-nos no tempo, Rita constatou que a quantidade de miniaturas previstas no projeto era pequena comparada com a quantidade de locais que poderiam ser representados. “Eu gostaria de ter feito muitos a mais, mas eram só doze”, afirma. Rita se entristece quando lembra que dois espaços em especial fugiram ao seu circuito de apreensão: o Armazém, uma antiga paixão que cristaliza a idéia de velhos comércios, e a Loja de Sapatos que testemunhou na adolescência.

A tradicional Padaria América, que está funcionamento desde 1915, foi um dos comércios homenageados pelas mãos da artista. Na miniatura é possível ver cada pãozinho, rosquinha e bolachinha feitos com uma precisão milimétrica. Rita retratou até uma batedeira dos tempos de outrora e que ainda é utilizada.


Padaria América

Também fazem parte da proposta a Alfaiataria Riachuelo, loja que vestiu o público masculino da cidade por muitos anos. Rita diz que a alfaiataria parece ter parado no tempo. Na miniatura aparece a escrivaninha repleta de papéis e livros de escrita e até uma máquina de costura que parece estar ali apenas aguardando o mestre alfaiate, Guilherme Matter, que foi tirar medidas de seu cliente.

Outro estabelecimento homenageado no projeto “Espaços Curitibanos” é a Confeitaria das Famílias, cuja fachada continua a mesma desde 1945. Em sua passagem pela Rua XV de Novembro, Rita adentrou a confeitaria e percebeu que, apesar das reformas internas, os funcionários ainda conviviam com elementos decorativos dos tempos dos primeiros confeiteiros, como a pia de louça para lavar as mãos, o relógio cuco, o sofá para as crianças e fotos históricas.

Para Rita, a homenagem prestada não é a cada estabelecimento, mas a todos os espaços comerciais que preservam sua história. “Pequenos ou grandes, consagrados ou anônimos, uma colcha de retalhos tecida com o mesmo fio: o respeito ao tempo e à tradição”, diz a artista plástica.

Visibilidade e reconhecimento

Há poucos meses, a miniaturista abandonou a Feira do Largo da Ordem para expor seu trabalho em feiras nacionais, o que gerou maior visibilidade de suas peças e mais oportunidades. No entanto, a divulgação não tem gerado reconhecimento. “Muitos clientes querem um produto personalizado, mas não querem pagar pelo preço que vale”, comenta Rita. Para desenvolver duas cadeiras, por exemplo, ela gasta um dia inteiro para pesquisar o material que vai utilizar.

O mundo de Rita espelhado em um conto de fadas poderia ter mais valor. Uma frase de Manuel de Barros escrita na porta de seu ateliê reflete essa necessidade: “O que dá importância às coisas não é o seu tamanho. O que dá importância às coisas é o encantamento que elas produzem”.

Mais informações

Rita de Cássia Baduy Pires
Ana Beatriz Miniaturas
(41) 3322 - 9442

* Texto de autoria de Juju Fontoura e Priscila Aguiar publicado na edição de julho da revista "Corpo da Matéria" do curso de Jornalismo da PUCPR.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Exposição Idiossincrasia na PUCPR


Foi aberta nesta segunda-feira (14), no Museu Universitário da PUCPR, a exposição “Idiossincrasia” dos formandos do curso de Desenho Industrial – Projeto do Produto e Programação Visual da Instituição. Até o dia 8 de agosto estarão expostos 45 produtos desenvolvidos pelos alunos durante o trabalho de conclusão de curso.

A exposição foi intitulada “Idiossincrasia” por definir as peculiaridades de cada indivíduo refletida em cada design, seja ela de produto ou gráfico. Mostra também que na identidade de cada trabalho apresentado, podem ter mensagens, símbolos ou valores diferentes para cada observador ou usuário.

De acordo com o Diretor Chefe do MUNI, professor Ivens Jesus da Fontoura, a exposição pode ser uma chance fazer a ligação entre empresa e escola. “Quem sabe um empresário, ao visitar a exposição, se interesse por um projeto e queira colocá-lo em prática ou fabricá-lo”, diz.

Jaime Ramos, diretor do curso de Desenho Industrial da PUCPR, afirma que a Mostra é resultado da qualificação e diversidade de produção dos alunos. “Com ousadia e atenção às necessidades e expectativas da sociedade a exposição estimula o contato com a comunidade como um todo, promovendo a aproximação de nossos alunos com os mais diversos públicos”, diz.

Programação Visual

O aluno Oscar Marcelino Teixeira, formando de Programação Visual criou um e-learning intitulado “Bicho de Sete Cabeças”. Trata-se de um curso, no qual o indivíduo é habilitado em sete questões que, de acordo com a pesquisa realizada por ele, são consideradas fundamentais com relação à empregabilidade.

A interface apresenta um dragão de sete cabeças sendo que cada uma oferece uma dica, como por exemplo a elaboração de currículo e como se comportar numa dinâmica de grupo. “Aqui nós podemos mostrar os nossos trabalhos e, quem sabe, dar uma contribuição para a sociedade”, diz o estudante.

Oscar acredita que a exposição abre portas para os estudantes de design. “Aqui nós podemos mostrar os nossos trabalhos e, quem sabe, dar uma contribuição para a sociedade”, afirma. Segundo ele, a função do designer é perceber as necessidades dos indivíduos resolvendo seus problemas.

Projeto do Produto

Os alunos de Projeto do Produto apresentam trabalhos comprometidos com o impacto ambiental. De acordo com Ravel Forghieri Casela, as atuais condições ambientais do planeta pedem por soluções que possam trazer benefícios para a sociedade e o meio ambiente. Além disso, ele acredita que está havendo uma mudança sócio-cultural por parte dos consumidores. “Eles estão exigindo produtos com maior apelo ecológico e os designers precisam atender a esta demanda”, diz.

Preocupado com um mundo sustentável, Ravel criou uma Composteira doméstica denominada TERRAVIVA. O produto reduz o lixo doméstico orgânico, e ao mesmo tempo, proporciona adubo para jardins e vasos. Por meio de processos mecânicos no interior da composteira, é possível acelerar o processo biológico de decomposição do material orgânico vegetal, sem que haja a produção de mau cheiro e atração de insetos na cozinha. De acordo com Ravel os resíduos são acondicionados no interior do aparelho e depois de duas semanas, em média, o processo de decomposição se finaliza e o produto obtido é um adubo orgânico.


Composteira TERRAVIVA de Ravel Casela


Outro trabalho que demonstra um comprometimento social e ambiental é o COOPERE, um sistema de transporte cooperativo que não causa nenhum impacto ambiental, pois seus veículos utilizam matriz energética limpa, ou seja, são elétricos, com índice zero de poluição do ar e praticamente zero de poluição sonora.

O COOPERE, produzido pelos estudantes Márcio Nantes e Bruno Ramos, é composto por uma combinação de veículos elétricos e sistemas de comunicação inteligente que permitem uma interação entre veículos e usuários.

Os carros, monitorados por tecnologia de posicionamento global (GPS), ficam disponíveis em espaços públicos ou privados e os próprios assinantes dirigem os veículos do sistema e pagam pelo serviço assim como fazem com um serviço de TV a cabo, por exemplo.

Via internet os assinantes podem definir o seu perfil, sua freqüência de uso, abrangência dos trajetos e horários. Assim, o sistema pode criar propostas de grupos de usuários que tenham rotinas semelhantes para dividirem trajetos. De acordo com Márcio, quanto mais o assinante dividir o veículo, ou seja, cooperar, mais barato é o gasto no trajeto.

Caso um assinante esteja a pé ele pode informar por meio do seu celular a sua localização e o destino pretendido. Se houver algum carro passando nas proximidades, o sistema informa a este assinante e ao veículo, a possibilidade de dividir o meio de transporte.


COOPERE de Bruno Ramos e Márcio Nantes

Postos de gasolina e a conseqüente poluição do ar são coisas do passado. Os carros do sistema COOPERE projetados pelos acadêmicos são elétricos e podem ser recarregados se estacionados nos locais indicados para a frota - as docas de recarga. Logo após, o veículo está pronto para sair às ruas. Os carros possuem também áreas de captação solar para converter energia solar em energia elétrica, aproveitada para alimentar os acessórios do próprio veículo.

Serviço

Exposição de Design “Idiossincrasia”
Data: 14 de julho a 8 de agosto
Local: Museu Universitário da PUCPR
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 12h e das 13h às 18h
Entrada Franca

* Texto de autoria de Juju Fontoura publicado originalmente em 16/07/2008 no site da PUCPR

Exclamo!

Este é o exclamo! um espaço virtual destinado ao registro dos textos e reportagens que resultaram das minhas experimentações jornalísticas. Estou aberta a críticas e sugestões. Exclame!