segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Esquinas Deselegantes


Sinal de alerta na Curitiba que chega a 1 milhão de veículos

O cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava com a Desembargador Motta talvez não merecesse uma canção de Caetano Veloso, a exemplo da mítica esquina entre a Ipiranga com a Avenida São João citada em "Sampa". Mas está perto disso. O encontro das duas vias é o mais movimentado do Centro de Curitiba, com fluxo de 5,2 mil veículos por hora no horário de pico - por volta das 18 horas, de acordo com dados da Diretran. É um cenário de cidade grande. "Alguma coisa acontece..."

E acontece não só na Visconde. Curitiba se tornou uma cidade de esquinas e ruas perigosas. É a capital brasileira que mais tem veículos - 1 para cada 1,8 habitantes. A soma assusta: até o final do ano, a cidade interiorana perpetuada nos contos de Dalton Trevisan estará perto de um milhão de veículos.

De acordo com dados do BPtran uma média de três a quatro pessoas são atropeladas pro dia no Centro de Curitiba. É o caso da Avenida Marechal Floriano, com 10 quilômetros, que corta o Centro inteiro. Ela é considerada a mais perigosa da cidade, devido ao grande fluxo de carros, ônibus e pedestres.

Este ano, ocorreram 167 acidentes, quase o dobro do ano passado. "Infelizmente, a maior preocupação das pessoas é não levar multa. Eles colocam o cinto de segurança, porque os guardas do BPTran ou da Diretran vão estar de olho", diz Ronivaldo Brito Pires, 2º sargento da Polícia Militar. Ele lamenta o fato da população não se preocupar com a segurança e diz que o cidadão tem medo de perder a carteira ou o bem material, ignorando a morte ou a lesão que um acidente pode causar. "As pessoas devem ter consciência de que o bem maior é a nossa vida", diz.

A utilização do transporte coletivo diminui acidentes banais, como a colisão por traseira ou engavetamento. No entanto, as campanhas defendem que os pedestres devem se conscientizar de que é preciso utilizar a faixa de segurança ao atravessar as vias. Em sete meses, houve 620 atropelamentos em Curitiba - uma média de 88,57 pessoas por mês, que equivale a suas salas de aula. Nas sextas-feiras, até dez pessoas são atropeladas devido ao estresse acumulado do motorista e à desatenção dos pedestres.

A prefeitura de Curitiba busca soluções para o problema do intenso fluxo de veículos no Centro. Um deles é o incentivo ao transporte público. No domingo, o curitibano pode utilizar os ônibus com a tarifa a R$1. Os biarticulados têm capacidade para 270 passageiros. Se fossem mais utilizados, os coletivos contribuiriam para a mobilidade da cidade. Atavessam Curitiba de um lado a outro e permitem várias conexões com o pagamento de apenas uma tarifa.

Na Colômbia, a cidade de Bogotá conseguiu uma solução: construiu 300 quilômetros de ciclovia utilizadas por 350 mil pessoas que vão ao trabalho de bicicleta diariamente. A prefeitura acabou com os congestionamentos e os problemas ambientais.

O pedágio urbano de Londres restringe a circulação de veículos no Centro da cidade e o monitoramento é feito através de câmeras espalhadas em pontos estratégicos. A tarifa custa 5 libras (quase R$25). A medida adotada pela capital inglesa pode ser muito radical para uma cidade como Curitiba, mas o Anel Viário, investimento da prefeitura em parceria com o Estado, trará maior fluidez ao tráfego da cidade.

Trata-se de um binário - dois sentidos de vias, um no horário e outro no anti-horário - que contornará o Centro. De cada cem motoristas, 33 vão para o Centro de acordo com dados da prefeitura. Com este projeto, somente as pessoas que realmente precisam fazer algo na região passarão por ali. Alguma coisa realmente acontece no coração do curitibano, inclusive em Viscondes, Mottas e afins.

* Texto de autoria de Juliana Fontoura e Talita Fioravante no Jornal Laboratório Comunicare "O Centro Vive"/ Ano 10 / Número 118 / Novembro 2006 / p. 10 / Orientação: José Carlos Fernandes.

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