segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ninguém sabe, ninguém viu


Jogo do Bicho resiste à repressão e sua prática acontece na surdina


O Jogo do Bicho era nobre. Seu pai foi o Barão de Drummond e nasceu com um objetivo digno: a manutenção do Jardim Zoológico de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Em 1893, Drummond inaugurou a contravenção penal mais popular do país. Bastava comprar um ingresso de mil réis para o zôo e era possível ganhar 20 mil réis se coincidisse o animal desenhado no bilhete com o que seria sorteado horas depois.

No início, o jogo era considerado uma diversão dos cariocas bem sucedidos. Hoje, a jogatina é para todos os bolsos e deixou para trás o caráter ingênuo. De acordo com Vilson Alves de Toledo, delegado do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) da Polícia Civil, o jogo do bicho é um abuso à credulidade das pessoas e esconde crimes como o tráfico de entorpecentes e a lavagem de dinheiro. Outro problema é que a prática traz prejuízos ao Estado, uma vez que não se recolhe nenhum tipo de tributo.

A polícia civil está com uma campanha de combate ao bingo, jogo do bicho e máquinas caça-níquel. Em 2005, foram agendadas 534 audiências com exploradores de jogos de azar no Juizado Especial Criminal de Curitiba. Neste ano, no período de janeiro a setembro , foram sinalizados mais 312 casos. "É uma infração de pequeno potencial ofensivo que pode acarretar em restrição de direitos e multa", diz Toledo.

À medida que as diligências policiais e estratégicas de combate aumentam, o jogo do bicho se fortalece. Além de ser considerado um dos jogos mais originais do mundo por não exigir material algum, como fichas e baralho, tem o apoio popular. Através de um simples recado verbal, a pessoa pode fazer um jogo de valor pequeno, em três ou quatro minutos, e válido para a semana ou o mês inteiro.

Um dos primeiros bicheiros de Curitiba foi Francisco Serrador, um aventureiro que, em 1850, resolveu montar um quiosque na área onde hoje se encontra a Praça Borges de Macedo. O espaço tinha por finalidade o comércio de cigarros, cachaça, café, balas e fumo em rolo, o que servia de pretexto para a atividade principal: o jogo do bicho.

Naquela época, o jogo era feito no verso das caixinhas de fósforo ou em pequenos pedaços de papel. Hoje as apostas são feitas em aparelhos semelhantes aos de cartões de crédito e emitem um "ticket". Silencioso, o jogo do bicho parece acontecer em uma Curitiba proibida, mas não impedida.

* Texto de autoria de Juliana Fontoura publicado no Jornal Laboratório Comunicare "Curitiba à vista" / Ano 10 / Número 120 / Novembro 2006 / p.6 / Orientação: José Carlos Fernandes

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