terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vermelhão


Símbolo de Curitiba, os "expressos" transportam quase 2 milhões de passageiros, mas nem todos estão satisfeitos


Implantado em 1992, o biarticulado foi uma revolução no transporte público de Curitiba. Até chegarem ao modelo atual, engenheiros pensaram em vários sistema de transporte coletivo que pudessem atender a demanda de passageiros da capital. Uma idéia foi o metrô. Veloz e de porte considerável, ele poderia muito bem ser uma opção a mais para a população curitibana. O problema está no custo.

Luiz Filla, gerente de operação do transporte da Urbs, reconhece as desvantagens deste sistema. "O metrô subterrâneo é uma obra muito cara para Curitiba. Seria preciso fazer um financiamento através de bancos internacionais com o apoio da União", explica. Outro empecilho é o fato desse sistema beneficiar apenas uma região da cidade. "Nós preferimos optar por uma Rede Integrada de Transporte que beneficiasse a cidade de Norte a Sul e de Leste a Oeste", conta Filla.

Com o ônibus biarticulado, surgiram também as estações tubo, feitas em nível e adequadas para o embarque e desembarque nos ônibus. Foi uma inovação. Antes desse invento, muitos passageiros eram obrigados a fazer o pagamento da tarifa em locais perigosos e pouco iluminados. A cobrança antecipada também economiza tempo do passageiro e dispensa a presença do cobrador no interior do veículo. O biarticulado passa por 351 estações-tubo, uma a cada 600 metros, em média.

A Linha Expresso liga o Centro aos bairros e fo planejada em um sistema trinário de vias que é composto por uma canaleta exclusiva para o "vermelhão" e duas vias rápidas de tráfego contínuo em sentidos opostos. As canaletas possibilitam o aumento de velocidade média dos coletivos sem prejudicar a segurança dos passageiros.

O biarticulado é o maior ônibus do Brasil - 24 metros de comprimento e capacidade para 270 passageiros. Porém, para conseguir um banco vago em horário de pico é uma missão quase impossível. Andréa Rofino dos Santos mora em Colombo e utiliza a linha Santa Cândida - Capão Raso todos os dias para ir ao trabalho. Ela adora quando o vermelhão está vazio e pode se sentar. "Quando vejo que o ônibus está lotado, nem entro", diz.

A tarifa custa R$2,20 e de acordo com a Urbs este é o preço que mantém o sistema no qual o cidadão pode atravessar a cidade pagando somente uma passagem. Ivanil Andrade pega dois ônibus por dia para ir para o trabalho. Ela diz que o preço da passagem só não seria justo se não existissem as conexões nos terminais. A proposta da tarifa domingueira a R$1, criada para incentivar o lazer do curitibano, fez com que aumentasse em 40% a quantidade de usuários. Uma pesquisa realizada pela Urbs revela que cerca de 1,9 milhão de passageiros são transportados diariamente, com um grau de satisfação de 89% dos usuários.

Muitos passageiros estão satisfeitos com o transporte, com exceção de alguns estudantes. No dia 22 de março foi estipulado pela UNE e UBES o Dia Nacional da Luta pelo Passe Livre em que há manifestações em 18 capitais brasileiras. Uma pesquisa realizada entre os anos de 2004 e 2006 pela Fundação Getúlio Vargas mostra que o gasto com ônibus das famílias que ganham até dois salários mínimos representa quase 11% do orçamento. Nestes três anos, as passagens subiram o dobro da inflação. De acordo com a Urbs se o estudante não paga a passagem, alguém tem que pagar e é inevitável para o Estado bancar esta despesa sozinho.

A segurança no biarticulado é motivo de preocupação para os usuários que fazem grandes trajetos. Uma gravação alerta os passageiros: cuidado com furtos no interior do veículo. Aparecida Rosa do Nascimento, moradora da Fazenda Rio Grande utiliza todos os dias a linha Pinheirinho - Rui Barbosa. Ela diz que não se sente segura no biarticulado. "Vejo todos os dias algum batedor de carteira em ação, mas não posso falar nada. Um dia uma moça começou a gritar quando viu um roubo. O bandido deu um empurrão e disse pra ela aprender a não ser dedo-duro", diz. O problema da segurança também preocupa Andrea Beatriz Rofino. "Eu ando no ônibus agarrada com a bolsa. Já vi uma pessoa sendo assaltada".

* Texto de autoria de Juliana Fontoura e Priscila Aguiar publicado no Jornal Laboratório Comunicare "Vermelho" / Ano 11 / Número 124 / Editoria Cidade / p.4 / Orientação: José Carlos Fernandes.

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